terça-feira, 24 de novembro de 2009

ESTUDO SOBRE EMISSÕES ANALISADA EM DETALHAMENTO INÉDITO

Está faltando pouco tempo para salvar o que resta no planeta

Pesquisa publicada na Nature Geoscience mostra que emissões de combustíveis fósseis cresceram 41% entre 1990 e 2008 e que a capacidade dos sumidouros de CO2 do planeta está caindo, o que pode resultar em um aquecimento de até 6°C em 2100



Descrita pela imprensa britânica como a maior pesquisa já realizada sobre fontes e sumidouros de dióxido de carbono (CO2), o estudo “Trends in the sources and sinks of carbon dioxide” (algo como, “Tendências nas fontes e sumidouros de dióxido de carbono”) foi publicado na revista Nature Geoscience nesta terça-feira (17) e preve um aumento nas temperaturas globais de 6°C em 2100 caso seja mantido o padrão atual de emissões de gases do efeito estufa.

O cenário nada animador exposto pelo grupo de cientistas, que foi coordenado pelo Global Carbon Project, mostra que as emissões da queima de combustíveis fósseis aumentaram 41% entre 1990 e 2008 ao mesmo tempo em que os sumidouros naturais de carbono, como florestas e oceanos, estariam perdendo sua capacidade de absorção.

Para os autores, a Conferência de Mudanças Climáticas das Nações Unidas em dezembro (COP 15) pode ser a última chance para se evitar este aumento nas temperaturas.

“Baseado no nosso conhecimento das tendências das emissões de CO2 e no tempo que será necessário para alterar a infra-estrutura energética em todo o mundo, Copenhague é a última chance que temos para impedirmos um aumento de mais de 2°C nas temperaturas. Se o acordo se mostrar muito fraco ou os compromissos não forem respeitados, estaremos no caminho para um aquecimento de 5°C ou 6°C”, explicou a líder da pesquisa, Corinne Le Quéré, da Universidade de East Anglia.

Segundo o estudo, entre 2000 e 2008 as emissões globais provenientes da queima de combustíveis fósseis subiram 29%. Na média, os pesquisadores verificaram um crescimento anual de mais de 3% durante esse período, maior que o 1% de aumento entre 1990 e 2000.

Praticamente todo esse crescimento se deve ao boom da economia chinesa e de outros países em desenvolvimento. Apesar de ser prevista uma redução das emissões entre 2008 e 2009 por causa da recessão, a tendência é que a partir de 2010 elas subam novamente.

Sumidouros

Ao estudar 50 anos de dados e combinar estimativas de emissões por ação humana e de outras fontes como vulcões, os pesquisadores foram capazes de calcular o quanto de CO2 emitido está sendo absorvido de volta pelo planeta.

Eles concluíram que os sumidouros absorvem hoje 55% de todo o CO2 presente na atmosfera, enquanto 50 anos atrás absorviam 60%. A queda na absorção é o equivalente a 405 milhões de toneladas de carbono.

A quantidade de CO2 que os sumidouros podem absorver varia de ano para ano dependendo de condições climáticas, por isso é extremamente complexo realizar qualquer tipo de estimativa sobre sua eficiência.

Le Queré afirmou que conseguiu remover boa parte dos “ruídos” que atrapalham este tipo de pesquisa, mas ainda assim, membros da própria equipe reconhecem a dificuldade de se ter dados perfeitos.

“É particularmente difícil medir as emissões provenientes do uso da terra e os dados sobre desmatamento ainda são pobres. Além disso, os sumidouros terrestres são fortemente afetados pela variação climática. Por mais que a ciência tenha avançado rapidamente, ainda existem lacunas no nosso entendimento destes processos”, disse Jo House, da Universidade de Bristol.

O estudo também descobriu que pela primeira vez desde 1960 a queima de carvão ultrapassou a de petróleo como a maior fonte de emissões provenientes dos combustíveis fósseis. Isso se deve principalmente ao crescimento vertiginoso da China, que tem no carvão sua grande matriz energética.

Este dado reforça a opinião geral de que não haverá acordo eficiente em Copenhague se os chineses não estiverem totalmente comprometidos. A recente visita do presidente norte-americano Barack Obama ao país deixou no ar um sentimento de dúvida se será mesmo possível que as duas grandes potências se engajem em um acordo climático global e evitem o futuro traçado por Le Queré de um aquecimento de 6°C.


Autor: Fabiano Ávila - Fonte: CarbonoBrasil

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