quarta-feira, 1 de abril de 2009

EUA e os direitos humanos: cresce o debate

A decisão de Barack Obama de colocar os EUA no Conselho de Direitos Humanos da ONU (criado em 2006) é bem mais que um simples rompimento com o estilo de administração vale-tudo-na-luta-contra-o-terror de Bush. Ou uma movimentação efetiva do novo governo democrata na direção de padrões éticos e morais de respeito ao ser humano. O bacana da decisão dos EUA é que a entrada do Império vai certamente sacudir uma instituição multilateral lenta e cínica, um saco de gatos composto de países onde direitos humanos são uma abstração, como China, Bósnia, Zâmbia e Paquistão, que se perfilam orgulhosos ao lado de nações efetivamente respeitadoras de direitos, como Canadá, Chile, Japão e Alemanha.

A tortura, que já foi usada por praticamente todos os países do mundo em algum estágio de sua evolução política - incluindo (principalmente) a Igreja Católica e sua abominável Inquisição - é, sim, um recurso de degradação na busca pela informação. Somos muito melhores e mais capazes de buscar informação por outros meios, que por vezes são infinitamente mais confiáveis na obtenção da informação correta e precisa. Eu não sei quanto a vocês, mas se me pendurarem num pau de arara e ficarem me dando choque no saco por horas eu assino qualquer papel, prometo qualquer coisa, confesso o que for preciso.

Os que não se sensibilizam com tortura e acham que o "método é legítimo para arrancar informações confidenciais" não conseguem perceber que, sob tortura, confessa-se tudo. E tortura é desumano, degradante, imoral. Daí a importância do gesto de Obama. Quando os EUA entram no Comitê de Direitos Humanos, se prontificam a passar de pedra a vidraça, porque certamente serão novamente acusados de praticarem tortura em sua guerra ao terror. E também podem botar um dedo na cara de outros membros menos nobres do grupinho. Pois é esta disposição da nova adminisração Obama que me deixa mais otimista sobre o futuro do Império.

Porque a China gosta de citar as torturas em Guantánamo ou as desigualdades sociais crescentes na América para desqualificar os EUA em termos de direitos humanos. Mas o fato é que a tortura, nos EUA, é uma exceção, ao contrário de países que se dizem preocupados com as massas, mas que torturam seus opositores (seus próprios cidadãos!) para arrancar confissões forjadas que os coloquem na cadeia. E aí se perfilam ditaduras de esquerda, como a gloriosa China, a decadente Cuba ou a paupérrima e ensandesida Coréia do Norte. Mas a tortura continuam em alta em regimes variados, como a oligarquia russa, os regimes islâmicos do Sudão, Arábia Saudita, Paquistão, Líbia, entre outros. Israel e seu troglodita Netanyahu (em breve primeiro-ministro) também tortura. E quem não esquece as ditaduras militares de direita da América Latina? E as ações policiais nos grotões de miséria no Brasil?

Chega. O gesto elegante da Nova Zelândia (um luxo de país) cedendo seu lugar no comitê para os EUA aumenta o tom, a intensidade e provavelmente a importância dos debates sobre direitos humanos no âmbito da ONU, que é um dos fóruns mais adequados, senão o melhor, para se discutir o tema. E a gente precisa é isso - discutir e debater. Porque é da informação correta e límpida obtida com o debate, com a dialética, que as pessoas podem tomar as melhores decisões sobre suas vidas, seus países, seus futuros. E não há pau de arara que me convença do contrário.

Nenhum comentário:

Postar um comentário